terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Novos terminais vão mudar o perfil do varejo nos aeroportos

Escrito por Daniel Rittner, da Valor Econômico


A nova geração de terminais que serão inaugurados às vésperas da Copa do Mundo de 2014, nos três aeroportos concedidos à iniciativa privada no ano passado, promete causar um choque no varejo do setor e transformar a experiência dos passageiros.
Em Viracopos e em Brasília, as concessionárias que assumiram a gestão dos dois aeroportos já fecharam contratos para trazer ao país grifes conhecidas internacionalmente e marcas inéditas no Brasil. "Será uma experiência de lazer e entretenimento para os passageiros", diz Daniel Ketchibachian, diretor comercial da Inframérica, que opera o aeroporto de Brasília e deve inaugurar até abril a primeira ampliação do terminal em obras. "Hoje, o passageiro gasta até 15 minutos na fila para comprar uma mera garrafa de água, nos horários de pico. Esqueçam isso", desafia.
A Inframérica fechou contrato com a rede americana de restaurantes Red Lobster, especializada em frutos do mar, que ainda não atua no Brasil. Em parceria com a Ambev, abrirá uma "miniarena" de futebol, em alusão ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Um pequeno museu, telões com transmissão de jogos e cerveja Budweiser fazem parte das atrações. Outro destaque é a maior sala vip da América Latina, com 1.800 m², com serviços como spa e até cinema. Marcas como Johnnie Walker terão presença em bar temático.
Ketchibachian diz que o aeroporto de Brasília tem características peculiares. Os passageiros gastam, em média, duas horas no terminal. Cerca de 84% não moram na capital federal. É gente em conexão ou esperando o voo após um dia de trabalho - geralmente contatos com o governo - na cidade. Cada viajante, no entanto, só desembolsa de R$ 5 a R$ 6 enquanto espera. "A nossa meta é triplicar as receitas comerciais até 2015."
Uma loja de departamentos, comandada pela suíça Dufry, ocupará 1.600 m² na área de voos domésticos. A ideia é ter produtos para todos os bolsos. "Muitos passageiros não têm tempo para ir ao shopping e estão dispostos a comprar no aeroporto. Só é preciso atendê-los adequadamente", diz o diretor da Inframérica.
A Aeroportos Brasil, que administra Viracopos, abriu uma chamada para manifestação de interesse de varejistas e recebeu 250 candidatos. Hoje, menos de duas dezenas de lojas se amontoam no velho terminal, em uma área de 2.800 metros quadrados.
No novo terminal, com capacidade para 14 milhões de passageiros por ano, o espaço disponível para unidades comerciais passará a ser de 11 mil m². Inicialmente, a fim de não dispersar excessivamente os passageiros, serão 68 lojas ocupando 8.500 m². O espaço restante será alugado à medida que o movimento crescer. A maioria do comércio e dos serviços ficará na parte restrita do terminal - ou seja, acessível apenas a quem já cruzou os portões de embarque.
Mais de 90% dos contratos já foram fechados, segundo Aluizio Margarido, diretor comercial da Aeroportos Brasil. A suíça Nuance fará companhia à compatriota Dufry na área de free shop. McDonald's, Bob's, Subway e Spoletto asseguraram presença no novo terminal.
No primeiro ano de funcionamento do terminal, que deve ser inaugurado em maio, a expectativa de Margarido é levar as receitas comerciais de Viracopos de R$ 20 milhões para R$ 40 milhões. Hoje elas representam só 13% do faturamento do aeroporto. Com a maior oferta de serviços, espera-se elevar o gasto médio por passageiro, que atualmente é de R$ 6 em alimentação e de R$ 7,80 nas demais lojas.
Margarido observa que, quanto mais aumentarem as receitas comerciais, maior fica a margem de manobra para uma política agressiva de atração de companhias aéreas a Viracopos. Podem ser dados descontos nos aluguéis de salas de apoio dos 'check ins' e gratuidade temporária nas tarifas de pouso e permanência das aeronaves. Com um número maior de companhias atuando no aeroporto, cria-se um círculo virtuoso e aumentam-se as receitas comerciais, permitindo novamente captar novos voos.
"Não nos vemos em concorrência direta com o aeroporto de Guarulhos", diz Margarido. "A experiência da Azul mostra a potencialidade do interior paulista", completa. Segundo ele, a TAP - única aérea hoje com voos internacionais em Viracopos - não perdeu passageiros em Guarulhos ao estender as operações a Campinas.

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